No Brasil, a canção atingiu um nível poético que encontra raro paralelo no mundo. Pode-se aplicar a ela a expressão ‘gaia ciência’, o saber alegre com o qual uma tradição secular designou a poesia cantada, e cuja leveza profunda Nietzsche desejou para a sua filosofia. No curso, a obra de Caetano Veloso é abordada tomando-se como referência quatro canções nucleares em torno das quais a análise faz gravitar outras que lhes são afins: Tropicália e o enigma-Brasil – o ‘fora da ordem’ onde perpetuamente aquilo ‘que ainda é construção já é ruína’; Livros e a porosidade complexa entre canção, filosofia e literatura; Itapoã – o universo baiano, o amor e o desejo; e Perdeu – a fratura social, a marginalidade e a travessia do esgotamento e do niilismo, destacadas nos discos da fase mais recente do compositor.