ESTAR EM CASA

Hoje nosso blog traz um poema-relato da escritora, crítica literária e tradutora Evelyn Blaut Fernandes, em torno das variadas associações com a condição de estar em casa, e sobre as motivações que esta condição proporciona à prática da escrita. A partir do próximo dia 15 de março, Evelyn coordena na Escrevedeira a oficina ‘Estar em casa’, que tem como proposta oferecer aos participantes um espaço particular de criação literária. Boa leitura!

ESTAR EM CASA

recentemente ofereci um curso

sobre as novas cartas portuguesas

que revisitam as cartas de mariana

alcoforado.

recentemente ofereci uma oficina

de escrita sobre a casa alegorizada

a casa como corpo

a casa como cidade

a casa como terra

a casa como planeta

a casa como livro

a casa como língua

a casa como inconsciente

a casa como causa

a casa como casa

o claustro como casa

o quarto como casa

a memória como casa

o refúgio como casa

a casa (de) campo

a casa como fuga

a casa arquitetura

a casa bairro

a casa em cima embaixo

a casa dentro e fora

a casa revisitada

a casa labirinto das casas.

agora estou fazendo uma leitura

acompanhada de uma viagem à índia

que revisita a epopeia camoniana.

agora estou lendo ariel e pedro

páramo que influenciou com sua

fantasmagoria

o século dele

e o nosso.

agora estou de novo

lá

na viagem de regresso ao lar.

peguei o texto do gonçalo

pensar a casa

e com ele (e contra ele)

escrevi um poema

em vinte minutos.

a literatura é o diálogo infinito

diz blanchot

homenagemàliteratura

diz fiama

a casa é o nosso canto do mundo

diz bachelard

minha casa é o cão de rua

diz a ana

a literatura é o atrito

eu disse

a literatura é a casa

para onde sempre regressamos

alguém disse.

a literatura é

a viagem e o vínculo

a apropriação e a antropofagia

a celebração e o assassinato

o novo e o antigo

o longe e o perto

a bolha e a deriva

a literatura é a saída