Em tempos de certo cansaço das narrativas do ‘eu’, uma pergunta é cada vez mais recorrente: quanto de nós existe no ‘eu’ que escreve? Autoras como Annie Ernaux, Svetlana Alexijevich, Conceição Evaristo e Camila Sosa Villada, por exemplo, lidam com essa pergunta. Além de escreverem a partir da experiência do real, destacam a dimensão coletiva de suas narrativas. 

 Usando suas próprias lembranças como vestígios de um contexto social compartilhado por muitos, Ernaux afirma buscar a ‘memória coletiva a partir de uma memória individual’. Alexijevich compõe suas obras como um coro de vozes que reconstrói eventos históricos traumáticos. Já Conceição Evaristo enfatiza, em sua ‘escrevivência’, o poder da palavra para representar a condição dos excluídos no Brasil. 

Este misto de curso e oficina explora as noções de individual e coletivo na literatura, passando pelo conceito de testemunho e por textos selecionados dessas e de outras autoras/es, além dos exercícios sugeridos aos participantes. Vamos analisar como narrativas atuais se aproximam de uma perspectiva decolonial, em que as individualidades e as identidades de narrador têm o poder de traduzir e dialogar com um grupo maior. Afinal, na literatura produzida por (entre muitas aspas) minorias, a história de uma mulher, de uma pessoa negra ou de uma travesti é também a história de tantos outros silenciados.