CINCO LEITURAS PARA DEPOIS DO CARNAVAL
10/03/2019Escrevedeira
A banda já passou e a maior parte dos bloquinhos também. Seja você amante ou não do Carnaval, preparamos uma seleção de livros para os dias seguintes à folia.
1. O PAI DO BURROS – DICIONÁRIO DE LUGARES-COMUNS E FRASES FEITAS, de Humberto Werneck
Apropriado para os dias atuais, este dicionário incomum reúne clichês de linguagem que vão de analfabeto de pai e mãe até dar zebra. Mas também “não pretende ser um index prohibitorum. Nada de polícia. Não se ofenda, nem se avexe de encontrar aqui alguma ou muitas de suas expressões prediletas. Há várias que também são minhas”, diz o próprio Werneck.
“O que se quer com este livro é apenas recomendar desconfiança diante de tudo aquilo que, no ato de escrever, saia pelos dedos com demasiada facilidade. Porque nada de verdadeiramente bom costuma vir nesse automatismo.”
2. A ARTE E A MANEIRA DE ABORDAR SEU CHEFE PARA PEDIR UM AUMENTO, de Georges Perec
Folia feita, além do trabalho, vale encarar esse livro de antiajuda do incrível Perec, que mostra em chave cômica como a imaginação literária pode mesmo se espraiar por lugares às vezes inimagináveis.
“O bom humor da srta yolanda o frescor dos ovos a inespinofagia do chefe imediato a ausência de sarampo observadas essas condições admitiremos com a maior boa vontade que o seu chefe imediato o receba e que não ache a priori ilegítimo que você lhe reclame um aumento pois não é que ele mesmo passa o tempo todo tentando obter um aumento do sr z”
3. AS PERGUNTAS, de Antônio Xerxenesky
Ambientado na mesmas ruas de São Paulo por onde passaram os novos blocos, esse ágil romance de Xerxenesky reflete sobre a vida e sua a rotina, incluindo morte e religião. A protagonista, uma doutoranda em história das tradições ocultistas, tem seu dia a dia revirado por conta de uma onda de surtos psicóticos na cidade, misturando esfera pessoal e coletiva.
“Uma pessoa não vira adulta ao conseguir emprego, ao aceitar que a vida pode ser entediante, e que fazer o que detestamos durante oito horas por dia é parte integrante da experiência humana, não, não tem nada a ver com trabalho, viramos adultos quando pessoas da nossa idade morrem de forma absolutamente estúpida e podemos contemplar, com a lucidez necessária, a fragilidade e o absurdo da vida.”
4. DEPOIS DE BABEL – QUESTÕES DE LINGUAGEM E TRADUÇÃO, de George Steiner
De alegoria religiosa a música da Banda Eva, a Torre de Babel já deu título a muita coisa. Mas aqui a história é outra. Depois de Babel é bem mais do que um comentário de fôlego sobre as principais concepções existentes, desde tempos remotos, sobre tradução. Talvez por conta das tantas coisas diferentes que um tradutor precisa mobilizar, além do cuidado com a técnica linguística, refletir com Steiner sobre como o mecanismo da tradução está impregnado em boa parte do que fazemos com as palavras vale a tarefa de atravessar as quinhentas páginas desse livro.
“Qualquer leitura abrangente de um texto do passado escrito na própria língua do leitor e pertencente a sua literatura é, na verdade, um complexo ato de interpretação. Quando usamos uma palavra, colocamos a ressoar, por assim dizer, toda a sua vida anterior”.
5. A COISA MAIS PRÓXIMA DA VIDA, James Wood
Neste seu segundo livro publicado no Brasil (o outro é Como Funciona a Ficção), o crítico literário James Wood parte de suas memórias pessoais para falar de como a arte da ficção em prosa irriga a vida, sem nem por isso se confundir totalmente com ela. Em tempos de pós-verdade, muito do que toca a literatura, a ficção e a realidade é repensado aqui, livre de jargões teóricos.
“É observando as pessoas seriamente que começamos a compreendê-las; olhando com mais atenção e sensibilidade para as motivações das pessoas, podemos olhar em volta e por trás delas. A ficção é extraordinariamente boa em dramatizar o quanto pessoas são contraditórias”.