A MEDIDA DE TODAS AS COISAS: AMOR, FILOSOFIA E LITERATURA
12/02/2021Renato Noguera
Hoje nosso blog abre espaço para o tema do amor, visto sob as lentes da filosofia e da literatura, com o texto de Renato Noguera, doutor em filosofia e professor da UFFRJ, além de autor do livro Por que amamos: o que os mitos e a filosofia têm a dizer sobre o amor (lançado recentemente pela Harper Collins). A partir de 17 de fevereiro, Renato dará o curso ‘A medida de todas as coisas: amor, filosofia e literatura’, na Escrevedeira, apresentando e discutindo os afetos e temas que compõem os seus enredos, com base em um diálogo proposto entre escritores, filósofos e textos anônimos de diferentes épocas que trataram com originalidade do amor. Nas aproximações criadas por Renato, um livro como As Mil e Uma Noites e autores como Shakespeare, Schopenhauer, Platão , ou ainda, de uma perspectiva cultural diversa, a filósofa Sobonfu Somé têm bastante a nos dizer sobre uma compreensão ampliada do amor.
De acordo com o filósofo Protágoras de Abdera, “o humano é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”. Quando o assunto é o amor, o que pode significar tomá-lo como medida de todas as coisas? O que a Filosofia e a Literatura têm a dizer sobre o amor?
Na história da filosofia, o amor aparece de varias maneiras. A literatura tem apresentado muitas perspectivas a seu respeito, além do lirismo romântico dos trovadores, encontramos uma afetividade líquida em tempos de crise das grandes narrativas também. Se os modos como o amor aparece nos mais diversos gêneros e estilos literários inspira muitas leituras, quais as contribuições de uma abordagem filosófica sobre um texto literário? Quando o assunto é amor, o que a filosofia tem a dizer através da literatura?
Essas interrogações contribuem para um percurso literário-filosófico sobre um assunto que domina boa parte das expressões da cultura popular. O amor na obra Eros e Psiquê, de Lucio de Apuleio remete a um diálogo com O Banquete de Platão. Os elementos para enfrentar a pergunta sobre a natureza de Eros e os seus efeitos na alma humana estão nos dois textos. Tristão e Isolda pode conversar com a filosofia de Arthur Schopenhauer. Uma leitura atenta da novela de cavalaria da alta Idade Média pode justificar a aproximação com uma das teses do livro do filósofo alemão, A Metafísica do Amor, a Vontade de amar luta contra todos os obstáculos. Assim como Tristão e Isolda, outra célebre obra sem autoria conhecida é a reunião de histórias contadas pela personagem Sherazade n’As Mil e Uma Noites. Nessas aventuras, a questão da narrativa como modo de produção da realidade que está presente no pensamento filosófico de Hâmpate Bâ pode ser encontrada do início ao fim do texto.
Por outro lado, o amor pode ser visto como um sentimento num dilema: próximo ou distante do ciúme? Essa interrogação pode ser trabalhada através de uma leitura psicanalítica de Otelo, o Mouro de Veneza, de William Shakespeare. Um ensaio contemporâneo da filósofa burkinense Sobonfu Somé, intitulado O Espírito da Intimidade, contribui para pensar o amor sob códigos da cosmologia dagara, postulando que o amor é um processo, um tipo de percurso em que a intimidade dita o ritmo da jornada. Um passeio sob essas concepções de afeto através de alguns gêneros narrativos e em diálogo com a filosofia contribui para enfrentarmos aquela pergunta que nunca nos abandona quando o assunto é o amor. “Por que amamos?”