À medida que o feminismo se impõe como ferramenta incontornável de compreensão da sociedade, transforma-se a maneira como concebemos as noções de sexualidade e de gênero, desnaturalizando as práticas e narrativas que lhes dão suporte. Essa transformação começa a afetar as leituras de obras literárias do nosso idioma, fazendo com que a compreensão que temos dessas questões fora dos livros se faça presente nas interpretações que fazemos deles.
Dessa perspectiva, a proposta do curso é analisar trechos de obras que retratam cenas de sexo e de violência sexual, apontando novos caminhos da crítica literária para discutir essas representações. Talvez seja mais fácil reconhecer estupro em textos de Jorge Amado, Nelson Rodrigues ou Rubem Fonseca, autores que revelam especial predileção por retratar esse tipo de ação, mas, ainda assim, resta avaliar os sentidos dessas passagens no contexto mais amplo de cada obra e da cultura em que essas elas se inserem. Por meio da discussão de passagens literárias e teóricas emblemáticas, é possível pensar também como seriam as representações de erotismo capazes de confrontar a misoginia, a LGBTfobia, o racismo e o elitismo que nos atravessam.