Muitas décadas depois de encerrada a sua carreira, o nome de Clarice Lispector é uma unanimidade, fascinando quem toma contato com livros como Perto do Coração Selvagem, A Paixão Segundo G.H. ou A Hora da Estrela, mas também por conta das particularidades de sua persona pública, que aparecem nas crônicas, na correspondência e em outros de textos. Dadas as potencialidades da sua escrita, pode-se dizer que seguimos ‘no raiar de Clarice Lispector’ – emprestando, em outro contexto, uma expressão de Antonio Candido.
E como ler então Clarice nos dias atuais? O que sua literatura nos diz em meio a uma situação histórica conturbada, no Brasil e no mundo? Quais as possíveis razões da repercussão gradativa de sua obra ao longo das quase quatro décadas de produção literária e jornalística, e da continuidade de seu prestígio desde então? Com base na análise da articulação dos recursos narrativos presentes nos textos e de suas múltiplas configurações, em cada gênero que ela cultivou, o foco principal do curso recai sobre o movimento que registra, ao mesmo tempo, suportes de um repertório narrativo tradicional e o processo de desmontagem das normas literárias, o que resulta numa produção realmente revolucionária. Essas questões são apresentadas e discutidas mediante a leitura de textos selecionados entre cartas, crônicas, contos e romances, examinados nos quatro encontros do curso.