Um dos pontos mais polêmicos no debate atual sobre o modernismo brasileiro, principalmente nas obras de escritores e artistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral ou Di Cavalcanti é o lugar da questão racial em suas rupturas artísticas e propostas políticas. É comum a Semana de Arte Moderna e seus desdobramentos serem tomados como inauguradores da representação de sujeitos negros como símbolos de identidade nacional, inclusive em imagens afirmativas dos afrodescendentes no Brasil.
Partindo dessa constatação, o curso apresenta e discute obras de autores negros atuantes entre a proclamação da República e a Semana, que já abordavam as consequências da modernização para os descendentes de africanos e o significado das ideias de ‘povo’ e ‘nação’, entre outras questões – uma produção habitualmente (des)classificada como ‘pré-modernista’. São escritores e artistas como Lima Barreto, Astolfo Marques, Arthur Timóteo e outros, que trataram em profundidade de temas que depois seriam explorados pelos modernistas hoje consagrados. Dessa perspectiva, os encontros focalizam ainda o encontro de Mario de Andrade com práticas culturais da gente negra no ‘Carnaval Carioca’, que ele conheceu pessoalmente e sobre o qual escreveu, em 1923, seu famoso poema, testemunhando uma das versões da ‘modernidade negra’ presente nos blocos de rua da época, embriões da atuais escolas de samba.