Fellini, de quem se comemora o centenário em 2020, é considerado um cineasta intensamente imagético. No entanto, desde suas origens como roteirista de algumas obras fundamentais do Neorrealismo italiano, sempre demonstrou fortes relações com a palavra escrita, absorvendo e transpondo para a tela fontes textuais diversas, de quadrinhos a fotonovelas, de crônicas a memórias, contos e romances.
Suas adaptações de um relato de Edgar Allan Poe, em Histórias Extraordinárias (1968), da prosa de Petrônio, em Satyricon de Fellini (1969), das memórias de Giacomo Casanova em Casanova de Fellini e da novela O Poema do Lunático, de Ermano Cavazzoni, em A Voz da Lua (1990), mostram a face mais explícita das ligações entre os filmes de Fellini e a modernidade narrativa, na qual o fragmento, o instante e o acaso se sobrepõem ao relato linear. Por meio da apresentação comentada de uma seleção de seus filmes, o curso ilumina suas peculiaridades narrativas, incluindo o que muitas vezes passa despercebido na escrita cinematográfica do diretor, identificando diálogos intertextuais e propondo novos modos de fruir e de interpretar o banquete felliniano.