Gritar é, em certa medida, libertar-se, romper as frágeis barreiras que delimitam aquilo a que convencionamos chamar de ‘cultura’ (que abrange, entre outros aspectos, uma série de regras de conduta), em oposição à ‘natureza’, isto é, em oposição ao que há de selvagem e indomável em nós. Esta oficina de criação literária propõe que se tome o grito ― isto é, uma das formas de saída de si ― como aspecto norteador da escrita. Ao derrubar as amarras que nos prendem aos modos e comportamentos convencionais, gritar se torna também um gesto político: ‘Porque há o direto ao grito. Então eu grito’, diz Rodrigo S. M., o narrador de ‘A Hora da Estrela’, de Clarice Lispector.
A dinâmica da oficina parte uma série de exemplos tomados tanto da literatura quanto das artes visuais, em autores exemplares – como Clarice, Hilda Hilst, Antonin Artaud, Nijinsky, Edvard Munch, Auguste Rodin, Gretta Sarfaty, Arthur Omar e outros –, que servem de estímulo a exercícios de escrita diversos, tomando o grito como mote.