A forma singular que consagrou a obra da francesa Annie Ernaux, conquistando leitores que ultrapassam em muito as fronteiras de seu país, foi alcançada por uma escolha literária radical: a ruptura não apenas com as convenções do romanesco ou de qualquer outro gênero estabelecido, como com os padrões da própria ficção.

Esse gesto ético e estético, batizado de ‘postura de escrita’ pela própria Ernaux, é o centro disparador de uma série de questões provocadas por sua obra, desde a publicação de O Lugar (em 1983) e presentes também nos seus livros posteriores, O Acontecimento (2000) e Os Anos (2008). Entre as questões abordadas ao longo dos encontros destaca-se o manejo de dados autobiográficos, porém jamais desligados de sua dimensão social, coletiva e histórica – no qual se identifica uma espécie de negação do eu em favor de um nós, ainda que tratando de fatos sucedidos com ela mesma e pessoas próximas. 

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