A memória é o grande ponto de interrogação quando se discute a existência de uma literatura não-ficcional. Afinal, o que lembramos tem sempre algo de ficção. Como se sabe, existem recordações diferentes sobre o mesmo fato e, por outro lado, interpretações diferentes que são fruto de uma mesma recordação. Mas não se pode negar que também há algo de histórico, social e cultural nas recordações, aspectos que dividimos com nossos contemporâneos e marcam um tempo, uma cidade, um grupo. As lembranças dos sobreviventes dos campos de concentração, por exemplo, foram essenciais para a compreensão dos mecanismos do Holocausto.
Entre as verdades e mentiras da memória, o curso explora trechos selecionados de narrativas memorialísticas, autobiografias, ensaios e gêneros diversos da prosa de ficção, de autores como Proust, Graciliano Ramos, Conceição Evaristo e outros. Ao longo dos encontros, a leitura e discussão desse material, associadas a exercícios propostos aos participantes, vão progressivamente tornando claro o grande potencial da memória individual ou coletiva como matéria-prima para escritores.